"A Metamorfose" de Franz Kafka


O livro “A Metamorfose” não podia começar de maneira mais crua e estranha: “Certa manhã, ao acordar de sonhos inquietos, Gregor Samsa viu-se transformado num gigantesco insecto.” Franz Kafka introduz assim a história de Gregor Samsa, um incansável caixeiro-viajante que sustenta os pais e a irmã, que se entregam descaradamente à ociosidade.
Parasitado pela família até àquela manhã em que ao acordar, já atrasado para o trabalho, viu uma carapaça dura, uma barriga castanha abaulada e muitas pernas magrinhas, Gregor Samsa é quem parasitará a família a partir daí. Mas esta obra conta mais do que a história de um homem que acordou insecto: fala de como o ser humano pode viver alienado pelo trabalho, o dever familiar ou pela autoridade do pai e alerta para os comportamentos humanos. Ao mesmo tempo, reflecte alguns aspectos da vida do autor.
Franz Kafka escreveu “A Metamorfose” em apenas três semanas, em finais 1912, quando tinha apenas 29 anos. Não gostou do resultado, que considerou imperfeito e com um final ilegível. O certo é que 90 anos depois de ter sido escrita, esta obra — publicada pela primeira vez em 1915 — é uma das mais conhecidas do escritor checo.

'O Mundo que eu vi' de Genuíno Madruga


O livro, intitulado 'O Mundo que eu vi', é integralmente dedicado à segunda volta ao mundo que realizou, entre agosto de 2007 e junho de 2009, com partida e chegada na ilha do Pico, a sua terra natal.

A viagem foi marcada pela difícil passagem do Cabo Horn, no extremo sul da América, uma zona de tempestades, correntes fortes e temperaturas baixas que deixou marcas no velejador e no seu barco, batizado de 'Hemingway'.

Na apresentação do livro, no famoso Peter Café Sport, na Horta, local de encontro de velejadores de todo o mundo, Genuíno Madruga mostrou que não esqueceu as suas origens humildes nem a sua profissão.

“Certamente que ali estão escritos alguns acontecimentos por mim relatados, à minha maneira, com as minhas palavras, mas desculpem se não são as palavras mais trabalhadas, mais eruditas. Eu sou pescador, fiz aquilo que foi possível”, afirmou.

O navegador sabe, no entanto, que os seus feitos são dignos de recordação, admitindo que “qualquer um dos grandes navegadores, que deram novos mundos ao mundo, ficariam muitos satisfeitos” por fazer o que ele conseguiu.

Genuíno Madruga também não esqueceu o grupo de apoio que durante os dois anos que demorou a segunda viagem seguiu diariamente a sua rota e confidenciou que, se tivesse apoios financeiros, partiria sem hesitar para uma terceira volta ao mundo.

O pescador foi o primeiro açoriano e o segundo português a dar a volta ao mundo sozinho num veleiro. Em 2002, quando terminou a primeira viagem, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio.
In Açoriano Oriental

"A importância de se chamar Ernesto" de Oscar Wilde

“Permanecendo persistentemente solteiro, um homem converte-se numa tentação pública permanente.”

"Raíz Comovida" de Cristóvão de Aguiar


Raiz Comovida – Trilogia Romanesca, de Cristóvão de Aguiar, começou a ser publicada há 25 anos – iniciou-se com A Semente e a Seiva (1978), e continuou-se com Vindima de Fogo (1979) e O Fruto e o Sonho (1981), para aparecer finalmente, num único volume (pela Editorial Caminho, 1987). Temos agora uma nova edição desta obra (Publicações Dom Quixote, 2003), que resulta de um profundo trabalho de revisão e de remodelação da edição anterior – de tal modo que, por vezes, temos a impressão de estarmos não perante uma edição revista de uma obra anteriormente publicada, mas sim perante uma obra nova e escrita de raiz.
Sendo uma obra de inspiração, de evocação e de definição açorianas, Raiz Comovida é, na beleza forte do seu título, muito mais do que aquilo que a uma leitura mais apressada possa parecer : não é mais um daqueles livros que costumam dar corpo ao que poderíamos chamar a estética da saudade, baseada no revivalismo de um país que a pouco e pouco vai deixando de ser o país das aldeias ; também não é um livro de memórias regionalistas. Indo muito mais fundo, nesta obra perpassam os tipos humanos que resultaram da amassadura da cultura ibérica tradicional com as águas, o sal e os ventos do mar, polvilhada de vulcões e abalos de terra, e mais de incursões dos piratas do Norte de África, e do isolamento, e de um ou outro arroubo colonialista – e perpassam sobretudo os contadores de histórias, aqueles que podemos tipificar na personagem do Ti José Pascoal de quem o narrador se queixa de que “Já está aqui há muito tempo à minha ilharga pedindo-me para entrar nesta história.[ pelo que, conclui ] Decidi fazer-lhe a vontade e vou já passar-lhe a palavra” (p. 45).
Desde a primeira à última frase de Raiz Comovida – vejamo-la nós em separado nos livros que a fizeram, vejamo-la na sua versão integral, já de si remodelada, de 1987, ou vejamo-la agora nesta nova versão que nos perturba enquanto gesto de inteligência dos tempos que correm e dos gostos que eles acarretam, mas sem nunca esquecer que se trata de uma reconstelação (isto é, de um reagrupamento, ele próprio dinâmico e interactivo) de elementos dispersos que são coerentes entre si, e que mutuamente se atraem, precisamente porque comungam do mesmo passado, e registam a memória que delimita a identidade cultural de quem, como os açorianos, é o fruto, ou o sonho realizado, de uma semente europeia que medrou mergulhada na seiva de um grande mar – e que agora se oferece, na comoção desta Raiz Comovida, à grande vindima que, de cada vez que acontece, representa, no nosso imaginário mediterrânico, a grande festa da vida.
LUIZ FAGUNDES DUARTE, In: http://palcopiniao.blogspot.com/2007/09/raiz-comovida-de-cristvo-de-aguiar-por.html

"São Bernardo" de Graciliano Ramos


São Bernardo, publicado em 1934, significa em termos de composição romanesca um enorme salto qualitativo. A plenitude do método descritivo e as sequelas pós-naturalistas ficaram no passado. Munido de uma perspectiva, o que implica uma concepção fundamental do mundo, supera a indiferença na escolha dos detalhes: todas as acções estão directamente vinculadas à vida e ao processo de busca de identidade da consciência de Paulo Honório. De guia de cego a senhor de engenho, essa trajectória de um homem possessivo e violento será desenvolvida aos olhos do leitor na dinâmica de seu acontecer.